Vivemos uma epidemia de TDAH?
Sou Maristela Spanghero, médica psiquiatra, e vamos falar um pouco mais sobre saúde mental. O tema de hoje é super importante, e aparece muito nos nossos consultórios. São as queixas relacionadas ao possível diagnóstico de TDAH, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.
Por que eu falo em possível diagnóstico? Porque a gente tem visto nos últimos anos uma verdadeira epidemia de pessoas se identificando como alguém que recebeu um diagnóstico recente de TDAH. Muitas vezes, a pessoa se autodiagnostica e começa um tratamento por conta própria, o que é um risco.
Existem também casos de pessoas que procuram o médico já reproduzindo todos os sintomas que elas identificam em si e que sabem ser do transtorno. Ou seja, já procuram o médico pedindo uma receita para tratamento de TDAH.
A maioria dos sintomas são de distração, esquecimento, dificuldade para gravar as coisas, dificuldade na escola, na faculdade, no trabalho. São pessoas que perdem objetos em casa e não se lembram onde deixaram, pessoas avoadas ou muito elétricas, que não conseguem ficar paradas.
E preciso ressaltar: estes são sinais, sintomas, comportamentos extremamente inespecíficos. O que significa que você pode ter alguma falta de concentração pontual em algum momento do seu dia, da sua vida. Pode ser consequência de uma situação momentânea, transitória, ou o TDAH. Mas o diagnóstico só pode ser dado por um médico especialista, de preferência um neurologista, psiquiatra, que entenda de fato o que é TDAH.
O quadro deve ser analisado com cuidado, levando em consideração um recorte maior de tempo, o histórico familiar, relato dos professores, dos colegas, entre outros. Tudo isso para excluir possíveis diagnósticos.
Então, antes de pensar em TDAH, é preciso avaliar se o paciente tem dormido bem, se tem boa qualidade de sono, se não faz muito uso de bebida alcóolica ou outro tipo de droga. É preciso saber se o paciente não está deprimido, se não tem um transtorno de ansiedade. São vários fatores e condições psiquiátricas que podem cursar com os mesmos sintomas de TDAH.
Até mesmo hábitos que parecem inofensivos como uso excessivo de telas, redes sociais, o tipo de conteúdo que consome na internet... podem interferir neste diagnóstico.
E o tratamento para cada situação é um. Por isso a importância de consultar um médico especialista, de ser transparente e de estar disposto a um tratamento eficaz. Muitas vezes será necessário intervenção médica, de psicólogos, de neuropsicólogos, entre outros.
Não faça autodiagnóstico. Não tome remédios por conta própria. São decisões arriscadas que podem gerar consequências graves.
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